Por Renato Cardoso (*)
Ouvi de tudo sobre minha amiga que se foi, por conta de um câncer contra o qual combatia há anos.
Ouvi radicais mencionando aspectos que resultaram num processo, ou uma série deles, culminando com sua condeção, que veio justamente quando partia para uma série de sessões de rádio e quimioterapia.
Uma ala mais severa insinuava pelos aspectos mais processuais ligados à empresária, mas muitos foram e são os que retratam seu lado de glamour, de vanguarda, de promoção de felicidade em todos que procuravam sua casa, a Daslu, por acaso a mais badalada do País, por anos.
Não quero e nem devo me ater aos aspectos que a levaram à sua reclusão, mesmo em seu domicílio. Apenas digo que a pena é extinta com o falecimento do réu. Pronto, ela já pagou por seus eventuais pecados aqui da terra.
Fica o legado de uma empresária anos luz à frente do tempo e que se ousou em partir para promover a felicidade daqueles que só encontram no “up to date” da moda e inseridos em uma roupa ou adereços de grife, ou seja: aqueles que definem relacionamento em seus ambientes com base na apresentação física. Consideremos que, nesse universo, no que diz respeito à empresária, podemos elencar com certeza os mais mais do País, com cacife o suficiente para frequentar aquele metro quadrado mais caro do mundo da moda.
É aí que entram homens e mulheres do “high society” listados de norte a sul do País e até do exterior.
Percebi que foram muitos os amigos que acompanharam Eliana Tranchesi em seu período mais doloroso, mas até aí, na dor, ela mostrou seu lado mais aguerrido, que sempre foi uma de suas marcas mais fortes.
Dia 1º de março, às 12h45, na igreja Nossa Senhora do Brasil, veremos o quanto era querida, pela missa mandada celebrar em razão de sua morte, ou em forma de homenagem.
Não foi sem sentido que mulheres ricas de fato e famosas se sentiam á vontade na Daslu, que tinha no caixa principal a fila de poderosos que se sujeitavam a tal, mesmo sabendo dos preços absurdos cobrados por tudo que estava exposto e à venda. O que valia mais, como se imagina, era o fato da compra ter-se dado na Daslu, casa dirigida pela poderosa empresária, herdada de sua mãe.
O lado marcante da empresária de sucesso era exatamente este, de fazer com que de um simples alfinete a um vestido famoso, indo de Lacoste, passando por Ralph Lauren e chegando a um Armani tivesse um diferencial, desde que embalado no papel sofisticado que continha o selo Daslu.
Famosos e badalados passavam pela Daslu, que era point indispensável de marmanjos e madames, que sempre fizeram e fazem da capital paulista o seu point mais requintado.
Conversei com várias pessoas a respeito, chegando a dois fornecedores de Eliana e senti que os contatados estavam tristes.
Alguém muito próximo de Eliana disse que ela deixa sim um legado, a par de todo lado tido como inserido em nossos códigos de penal e processo penal… ou civil, como queiram.
Os mais próximos mencionam como ela enfrentou dois problemas seríssimos de sua vida ao mesmo tempo: a doença e a fase processual, culminando com a condenação que a colocou em uma cela por um ou dois dias. Aí entrou seu advogado e pessoas famosas que justificaram não ser mais o momento dela estar numa cela, onde perigosos de fato se fazem presentes, ou não … de políticos corruptos e falsários famosos, passando por um dos mais procurados da Itália, que atende por um Cesare Battisti. Prisão no Brasil é tema para ampla discussão há anos sem que se chegue a uma definição mais consistente. Isso porque os maiores clientes, em tese, são os que participam da elaboração das leis neste País (que País é este). Há exceções, bem sabemos.
Muito se discute nos meios jurídicos sobre as formas de penalidades aos que se inserem no rol de “ficas sujas”. Ora, se houve crime, houve conivência e aí é que o fato se salienta, pois se formos elencar os tais, chegaremos aos mesmos de sempre, de políticos corruptos e ricos sem explicação de seus saldos bancários. Esses gastavam o dinheiro fácil na Daslu, a par da casa ter sido frequentada mais ainda por gente com “bala na agulha”, de procedência honesta.
Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra, e agora, indo em homenagem à Eliana Tranchesi, reporto-me à frase bíblica, até para que fiquemos com seu lado mais aguerrido, mais ousado, mais voltado a promover felicidade em quem tem necessidade de se apresentar vestindo a novidade mais novidade do mundo da moda.
Senti que em muitos ambientes finos, que de certa forma tinham elo à empresária, o clima é apenas de tristeza e nem de longe alguém ousou abordar aspectos outros, que na boca dos fofoqueiros que não conhecem ou entendem de glamour de verdade, são um prato cheio.
Os sucessores da Daslu, por todos os meios, empresários ricos e de sucesso… e respeitados, procuraram prestar sua homenagem à Eliana Tranchesi. O luto ficou exposto na loja de forma física e no portal, com uma linda mensagem em sua homenagem. A casa mais badalada do Brasil cerrou sua porta por um dia, em forma de luto.
Os mais próximos choraram copiosamente sua morte, enquanto os frios e calculistas que passam seus dias fofocando vidas de políticos e malfeitores, apenas fizeram elo ao aspecto processual. Colocaram-na no mesmo patamar dos “mensaleiros”, que como se sente, saíram rindo de todos nós e com caixa robusto, de origens sabe-se lá quais e talvez correndo o risco de terem seus crimes prescritos, por conta de atrasos oportunos levados a público pela mídia maior, com insinuação a um ou dois ministros da suprema corte.
Dentre os clientes de Eliane, muitos ou maioria, eram ligados a políticos (filhos e filhas, esposas e amantes).
Se compararmos a vida de Eliana Tranchesi com a vida de nossos políticos, em sua maioria, veremos que ela parte desta vida carregando nas costas, ou no currículo, pecados infinitamente menores do que praticam os que são destaque em todas as manchetes e que jamais entram para o ról de bandidos ou criminosos. Só que eles, aí sim, não nos passam e não nos deixam qualquer legado.
Fico com o lado empreendedor e de especialidade de Eliane de promover a felicidade aos seus amigos e clientes. Esses não reclamam nem abordam o lado que os fofoqueiros de plantão e coniventes em sua maioria com os criminosos maiores ousam em comentar.
Que descanse a empresária da Daslu, em absoluta paz! Que luzes iluminem seu caminho para o lado mais próximo do Senhor.
(*) Renato Cardoso, o autor, é publicitário e bacharel em direito.
Postado por : Vera Tabach
Presidente Nacional da ABIME
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